Confirmandos refletem sobre as sete obras da misericórdia e o cuidado ambiental em Rio Possmoser
- ADL 
- 17 de ago.
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No sábado, 28 de junho, a Paróquia IECLB Rio Possmoser realizou um encontro formativo diferenciado com seus confirmandos, reunindo mais de 100 adolescentes em um dia inteiro de atividades. A iniciativa foi conduzida pelo ecopedagogo Alex Reblim Braun, a convite do pastor Miqueias Holz, com o objetivo de relacionar as sete obras da misericórdia, descritas em Mateus 25.34-46, com os desafios ambientais da atualidade.
O diálogo buscou mostrar que a fé e as práticas diaconais também se expressam no compromisso com a preservação da criação e com a vida em todas as suas formas. Para isso, cada obra da misericórdia foi reinterpretada a partir de reflexões socioambientais, aproximando os confirmandos de debates urgentes e concretos do cotidiano.
Na reflexão sobre “dar de comer a quem tem fome”, o grupo discutiu a questão da alimentação saudável e a crítica ao consumo de ultraprocessados, destacando informações do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) sobre a presença de agrotóxicos em alimentos populares, especialmente direcionados ao público infantil. Foi ressaltado ainda o aumento do açúcar, sódio e gorduras processadas nos produtos de fácil acesso, provocando uma reflexão sobre justiça alimentar e educação nutricional.

Ao abordar “dar de beber a quem tem sede”, os confirmandos foram levados a pensar não apenas no acesso à água potável, mas também na preservação das fontes hídricas. Discutiu-se a contaminação causada por esgoto não tratado e agroquímicos, além do impacto das grandes “manchas de lixo” nos oceanos e da crescente presença de microplásticos em rios e mares, elementos que ameaçam a saúde ambiental e humana.
Na obra “vestir os nus”, a reflexão recaiu sobre a indústria têxtil e seus impactos sociais e ambientais. Os confirmandos tomaram conhecimento de que cerca de 20% da água do planeta é destinada à produção de roupas, e que um único par de jeans pode demandar mais de 7 mil litros de água em toda a sua cadeia produtiva. Foram também mencionados os problemas do descarte de resíduos, a dificuldade de reciclagem (menos de 1% do total produzido) e as graves denúncias de trabalho escravo em fábricas do setor.
Em “dar pousada aos peregrinos”, o grupo dialogou sobre o conceito de “refugiados climáticos”. Dados do Banco Mundial apontam que até 2050 cerca de 216 milhões de pessoas poderão ser forçadas a se deslocar devido a eventos climáticos extremos. O exemplo do pequeno arquipélago de Tuvalu, no Oceano Pacífico, ameaçado pela salinização do solo e pela elevação do nível do mar, foi apresentado como um dos símbolos de um problema global. Também se discutiram os fluxos migratórios provocados por guerras e conflitos, a hostilidade de alguns países em relação a refugiados e, em contrapartida, o papel de destaque do Brasil em políticas de acolhimento.
A obra “visitar os presos” foi ampliada para além do cárcere físico, chamando atenção para a dependência química e outros tipos de aprisionamento social. Os confirmandos conheceram dados que colocam o Brasil como o terceiro país do mundo em população carcerária, além de refletirem sobre a cultura que estimula o consumo de álcool, cigarro e drogas. Testemunhos de pessoas em reabilitação foram compartilhados como forma de sensibilizar o grupo para o cuidado e a reinserção social.
No tema “visitar os enfermos”, o enfoque esteve nos impactos das mudanças climáticas na saúde pública. Foram destacados os riscos relacionados a ondas de calor extremo, enchentes, secas e tempestades, que podem aumentar a incidência de doenças transmitidas por vetores, problemas respiratórios, doenças relacionadas ao calor e transtornos de saúde mental. O debate apontou para a urgência de novas formas de cuidado e políticas de proteção às populações mais vulneráveis.
Por fim, em “enterrar os mortos”, foram lembradas as vítimas de desastres ambientais recentes, como enchentes no Rio Grande do Sul, incêndios florestais e ondas de calor intensas que ceifaram milhares de vidas. O cuidado com a vida, desde o nascimento até o último suspiro, foi reforçado como gênese do compromisso diaconal.
Ao final do dia, os confirmandos foram divididos em grupos para propor intervenções concretas em suas famílias, comunidades e bairros. Entre as sugestões apresentadas estiveram o plantio de árvores, a preservação de nascentes, a redução do uso de plásticos nos encontros da igreja, a transição para modelos agroecológicos e a inclusão da pauta ambiental nos encontros comunitários do ensino confirmatório e Juventude Evangélica (JE). O encontro foi concluído com dinâmicas de convivência e momentos de recreação, fortalecendo a integração entre os participantes.

A condução da reflexão foi realizada pelo professor Alex Reblim Braun, bacharel em Serviço Social e licenciado em Ciências Sociais, com apoio dos estudantes da ADL Adrian Patricio Gaed, Danilo Strelhow, Jady Jastrow e Karolyne Kamke de Oliveira, responsáveis por momentos de canto e apoio nas dinâmicas. Além de todo apoio de orientadoras(es) e do próprio ministro religioso, Miqueias Holz.

Para a estudante Jady Jastrow, que também integra a comunidade de Rio Possmoser, a reflexão trouxe um olhar necessário sobre a realidade local: “Essa reflexão é muito importante para a nossa paróquia, ainda mais porque o uso desenfreado de veneno faz parte do cotidiano dos agricultores, sendo comum casos de intoxicação. Cuidar do planeta é também cuidar da nossa saúde e do mundo em que vivemos”.
O encontro mostrou que a juventude luterana é capaz de assumir um papel ativo na defesa da vida, conectando fé, diaconia e sustentabilidade, e lembrando que “tudo está interligado”.








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